O Brasil é um dos países que abrigam as maiores comunidades internacionais. Um levantamento inédito publicado em outubro de 2019 pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, por exemplo, revelou que 6% da população brasileira é constituída por árabes e descendentes.
De acordo com a pesquisa, a comunidade árabe no Brasil soma 11,61 milhões de pessoas, sendo 27% delas de origem libanesa.
O interesse do brasileiro pela cultura árabe e pelo estudo da língua árabe aumentou no último século. Um reflexo dessa onda tem sido o desembarque da literatura árabe no Brasil sem precisar fazer escalas em outros idiomas, como o clássico Livro das Mil e Uma Notes, vertido do árabe para o português pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Mamede Mustafa Jarouche.
Professora particular de língua árabe no Brasil há 25 anos, a libanesa radicada em São Paulo Karen Hayek afirma que o interesse pelo idioma aumentou no país. Embora os seus alunos tenham perfis distintos, há um propósito que os unem: a busca pelas raízes familiares. Nessa jornada pessoal, aprender o idioma é um passo fundamental e revelador, pontua a professora.
Para Karen, que ensina à distância e prioriza a conversação, a língua contém uma carga poderosa de memórias afetivas envolvendo pais, avós e bisavôs. “São lembranças de infância, expressões cheias de saudade… Então o coração bate mais forte e eu me emociono com cada história contada”, diz a professora.
Aos poucos, o idioma faz o aluno reviver momentos vividos há muitos anos, na infância, quando ouvia os familiares falarem o idioma dentro de casa. “No decorrer das aulas vamos despertando sentimentos adormecidos, e o aprendizado fica ainda mais afetivo e satisfatório”, finaliza Karen. Para os descendentes, aprender a língua vai além da conexão cultural. Trata-se, sobretudo, de um encontro com a própria história.