O Ministério da Saúde do Líbano deve receber nos próximos dias, uma doação de aproximadamente 40 mil medicamentos, uma iniciativa do empresário Mohamad Hussein Abu Wadi, que no último mês, no Brasil, foi vítima de xenofobia por ser descendente de libanês. Os medicamentos saíram nesta quarta-feira (28), de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A expectativa é de que até o início da próxima semana o Ministério da Saúde receba os medicamentos em Beirute.
A doação chegará na semana que o Líbano completará um ano das explosões no porto de Beirute. Onde mais de 200 pessoas morreram, outras 6500 ficaram feridas, centenas de desabrigados e uma parte de Beirute destruída.
O Crime
A iniciativa de Mohamad em ajudar o Líbano, é uma resposta ao crime de xenofobia praticado pelo dentista Cláudio Picolli, que por meio de uma publicação hostil no Instagram, manifestou ódio contra Mohamad por ele ter origens libanesas e também, por ele ter nascido em Lages, interior de Santa Catarina.
Cláudio Picolli ainda tentou pedir desculpa, criou ainda mais revolta. Imagem: Reprodução do Instagram
Mohamad é um dos maiores empresários de Educação e Saúde no Brasil. Foi criado e educado em kefraya, no Vale do Bekaa. Hoje vive em Balneário Camboriú (SC), onde foi vítima de xenofobia.
Picolli faz parte do Conselho Administrativo de uma faculdade particular de Balneário Camboriú. Após o crime, uma onda de revolta se formou nas redes sociais e o reitor da instituição se manifestou.
Leia na íntegra;
“Fiquei estarrecido ao ser informado de suposto crime de xenofobia manifestado publicamente nas redes sociais do acionista do Centro Universitário Avantis – UniAvan, Senhor Cláudio Picolli, na tarde de quarta-feira, 14 de julho de 2021.
Publicamente, revestido pelas responsabilidades deste cargo de Reitor desta Instituição de Ensino Superior, com 18 anos de história ilibada e honrada no Estado de Santa Catarina, em especial nesta cidade de Balneário Camboriú, não posso me furtar de vir publicamente manifestar o meu REPÚDIO a tamanha inglória registrada em tempos tão sombrios que vivemos; ao mesmo tempo em que imploro o perdão à toda comunidade libanesa que escolheu residir e empreender neste solo verde amarelo – em especial aos nossos coirmãos lageanos – a qual, nesta data, teve tanto o coração quanto a alma apunhalados pela irresponsabilidade de um de nossos acionistas.
Informo que o senhor em voga não ocupa NENHUMA atividade didático-pedagógica na nossa Instituição, sendo apenas acionista e recentemente eleito como vice-presidente do Conselho Administrativo. Neste sentido, como Reitor, não me cabe responder e muito menos posso agir para reprimir este oprobrioso ato, uma vez que este senhor faz parte da mantenedora e não da mantida UniAvan. Porém, frente a
emergência, comunico-lhes que encaminhei o Ofício 008/2021, tanto ao presidente quanto ao vice-presidente da Mantenedora, para que possam agir urgentemente de modo a amenizar os prejuízos irreparáveis que esta atitude causa à nossa IES. É uma mácula execrável e sem precedentes; resultado de disputas internas que não podem comprometer o nosso fazer didático-pedagógico!
É inadmissível que fatos como esse – advindo de quem quiser que seja, muito menos de alguém que representa a nossa IES – possa perdurar nestes tempos hodiernos em que tanto discutimos ser premente resgatar os valores perdidos.
Nesse sentido, compete-me informar que o UniAvan, por meio da Resolução n. 047/2019/CONSUN, considerando a Convenção Internacional sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação racial; bem como pelo fato de considerarmos que o racismo é crime inafiançável e imprescritível, temos estabelecidas normas para o combate ao preconceito e à discriminação racial.
Por meio de referida Resolução a comunidade acadêmica não pode exercer qualquer ação que favoreça a discriminação, o preconceito de raça, cor ou etnia, de gênero, procedência nacional ou quaisquer outras formas de preconceito.
Deste modo, no meu exercício profissional como líder desta comunidade, neste momento não posso ser conivente e nem me omitir perante supostos crimes como o que nesta data machucha e macula o meu coração de educador e, imensuravelmente, a honra da
comunidade libanesa-brasileira.
Convém também mencionar que, orgulhosamente, nos últimos anos dispomos de um programa institucional por meio do qual oferecemos bolsas de
estudos integrais para imigrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade. Por meio desta iniciativa, garantimos e garantiremos o acesso destes cidadãos ao Ensino Superior de qualidade de modo que possam vislumbrar melhores condições de vida.
Por conseguinte, não será a leviandade de uma única pessoa que maculará a história de nossa instituição, construída com muito trabalho e compromisso com os nossos princípios institucionais, dentre os quais o respeito às diferenças.
Neste sentido, o Centro Universitário Avantis – UniAvan REPUDIA os atos praticados nesta data e declara que não se trata de um posicionamento oficial da empresa, mas sim um ato isolado e pessoal do acionista.
Sem mais para o momento, por ser um sabedor de que a humilhação social nos faz sofrer incomensuravelmente, reitero publicamente a minha solidariedade e estendo o meu fraternal abraço a cada um dos 10 milhões de descendentes libaneses
que transformam o nosso Brasil na maior diáspora libanesa do mundo.
Tenham absoluta certeza de que como educador estarei a todo momento do lado de vocês para descontruir preconceitos, estigmas, estereótipos e todas as formas de discriminação.