Comitiva brasileira de ajuda ao Líbano levou alimentos, medicamentos e insumos básicos de saúde
Ao longo dos seus 4 mil anos de existência, o belo e emblemático Líbano passou por inúmeras intempéries, como dominações e conflitos internos. De uns tempos para cá, o país sofre com uma crise político-econômica que se intensificou com a pandemia do novo coronavírus e a explosão do Porto de Beirute. Sensibilizadas com a situação da sua terra natal, algumas famílias libanesas, em Bauru, resolveram se unir para enviar ajuda humanitária à nação. Liderada pelo ex-presidente Michel Temer, a missão brasileira embarcou com os insumos na última quarta-feira (12).
Segundo o presidente do Clube Monte Líbano de Bauru, Massaad Kalim Massaad, alguns empresários do município enviaram ajuda humanitária ao Líbano, mas grande parte das contribuições partiu da Capital Paulista. “São Paulo abriga uma das maiores comunidades libanesas do País”, reforça.
Filho de libaneses, o empresário José Melhem relata que a sua comunidade, em Bauru, é bastante unida. Antes da pandemia, o grupo se reunia em cafés e, agora, as conversas se dão apenas de maneira virtual.
Além disso, Melhem ratifica que diversos empresários bauruenses se mobilizaram para enviar ajuda humanitária ao Líbano por meio do Consulado, que criou uma conta bancária. “A comunidade local chegou a depositar dinheiro para a compra de mantimentos e medicamentos”, acrescenta.
Os dois também aproveitaram a oportunidade para expor as suas impressões sobre o atual cenário daquele país, assim como o fez o ex-deputado estadual Pedro Tobias, que nasceu no Líbano.
MASSAAD KALIM MASSAAD
O presidente do Clube Monte Líbano de Bauru nasceu no Líbano. Ele diz que muitos libaneses trabalhavam na Arábia Saudita ou em outros países. As demais nações, em contrapartida, passavam o verão no Líbano, cujas montanhas deixam o tempo ameno. Só que a presença do Hezbollah mudou tudo.
De acordo com Massaad Kalim, as pessoas pararam de visitar o Líbano, fato que encurtou bastante o dinheiro daquele país e contribuiu muito para a sua crise econômica. “A explosão do Porto de Beirute, considerado a porta de entrada para o Oriente Médio, piorou a situação”, completa.
Paralelamente, a forte presença da religião na política deixa Massaad desesperançoso quanto a uma possível solução para o impasse.
JOSÉ MELHEM
Filho de libaneses, Melhem expõe que a terra natal dos seus pais passa por várias crises, entre elas, a político-financeira. “De um lado, a corrupção em todas as esferas do poder. De outro, a dolarização da moeda nacional fez com que o país chegasse ao caos”, argumenta.
Segundo o empresário, o Líbano também passou por uma quarentena bastante restritiva, que só começou a ser flexibilizada um dia antes da explosão no Porto de Beirute, em 4 de agosto deste ano.
Contudo, o maior problema do país, conforme a avaliação de Melhem, diz mesmo respeito à corrupção. O empresário arrisca a dizer que as crises que assolam o Líbano levarão a outra Primavera Árabe. A expressão surgiu em dezembro de 2010, quando o Oriente Médio e Norte da África passaram por uma onda de manifestações.
A corrupção é tanta que Melhem relembra uma medida tomada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. “Ele alegou que não doaria um centavo para o governo libanês, mas criaria uma ONG para repassar o dinheiro aos segmentos mais necessitados”, narra.
PEDRO TOBIAS
O ex-deputado estadual nasceu no Líbano e saiu de lá aos 18 anos para estudar na França. Para ele, o país nunca teve uma política exemplar. “A divisão do poder baseada na religião sempre traz problemas e, do jeito que está por lá, não haverá qualquer mudança, pelo menos, em curto prazo”, acredita.
Paralelamente, Tobias destaca que a Arábia Saudita ajudava o Líbano financeiramente todos os anos, mas passou a estabelecer condições depois que se juntou aos EUA.
Ainda de acordo com ele, o Hezbollah é um partido político igual aos outros. “O único, inclusive, que salvou o Líbano da ocupação israelita. Logo, não o considero terrorista, como os norte-americanos”, finaliza.
* Com informações do site JCNET