
O governo do Líbano anunciou um plano histórico: até o final de 2025, todas as armas em território nacional deverão estar sob autoridade estatal. A decisão, resultado de meses de pressão dos Estados Unidos, acontece após a guerra entre Israel e o Hezbollah, que matou mais de 4.000 pessoas e terminou com um cessar-fogo em novembro de 2024.
Apesar do acordo, Israel mantém presença militar em cinco pontos do território libanês e continua realizando incursões e ataques aéreos. Esse cenário eleva as incertezas sobre a viabilidade do plano de desarmamento do Hezbollah, grupo que durante décadas exerceu papel central como força militar paralela no país.
O que prevê o plano aprovado pelo governo
O programa apoiado por Washington será conduzido em quatro fases:
1- Compromisso formal: até 31 de dezembro de 2025, o governo deverá publicar um decreto confirmando o desarmamento do Hezbollah.
2- Estratégia militar: nos 60 dias seguintes, o Exército libanês apresentará a forma de recolher gradualmente o arsenal.
3- Retirada israelense: em até 90 dias, Israel deverá sair dos pontos ainda ocupados no território libanês.
4- Desmonte de armas pesadas: até 120 dias, armamentos de longo alcance, como mísseis e drones, deverão ser entregues sob supervisão estatal.
Paralelamente, parceiros internacionais prometeram financiar um programa de reconstrução econômica.
Reações no Líbano
O anúncio foi recebido com forte resistência pelo Hezbollah. O vice-líder do grupo, Naim Qassem, declarou que o desarmamento não será aceito enquanto Israel continuar ocupando território libanês. Ele acusou o plano de servir aos interesses de Tel Aviv e advertiu que sua implementação pode levar a conflitos internos.
Já o presidente Joseph Aoun reafirmou que nenhuma organização armada pode atuar fora da autoridade estatal e que a defesa nacional cabe exclusivamente às Forças Armadas. Para ele, o plano é uma oportunidade de restaurar a soberania libanesa.
O dilema libanês
A questão do desarmamento do Hezbollah está no centro do debate político desde o fim da guerra civil, em 1990. O grupo sempre resistiu a entregar as armas, alegando sua função como movimento de resistência contra Israel. Tentativas de limitar sua autonomia militar já provocaram crises políticas e confrontos armados no passado.
Agora, o governo libanês busca se equilibrar entre três pressões distintas:
- internacional, marcada pela exigência de Washington e de países europeus para que o Estado recupere sua autoridade;
- regional, com Israel impondo presença militar e o Irã sustentando o Hezbollah;
- interna, em um país fragilizado por divisões sectárias e crise econômica.
O país conseguirá desarmar o Hezbollah?
Analistas consideram que o desarmamento completo do Hezbollah até o fim de 2025 é uma meta extremamente ambiciosa. Para que isso aconteça, três condições seriam necessárias:
- Cooperação plena de Israel, com retirada de tropas e cessação das violações de fronteira.
- Garantia de apoio econômico e militar internacional ao Exército libanês, para assumir funções hoje desempenhadas pelo Hezbollah.
- Abertura política dentro do próprio Líbano, capaz de evitar que o processo gere guerra civil.
Sem esses elementos, o plano corre o risco de aprofundar divisões internas e fortalecer ainda mais o papel do Hezbollah como força de oposição.
O que está em jogo
- Soberania: o Líbano tenta restaurar o monopólio estatal da força.
- Segurança: sem desarmamento, a fronteira sul permanece vulnerável a novos confrontos.
- Reconstrução: apoio internacional depende da implementação do plano.
- Estabilidade política: risco de novos conflitos internos se o Hezbollah resistir.