A chegada do Papa Leão XIV ao Líbano nesta semana marca a quarta visita de um pontífice ao país e reabre um capítulo relevante na relação histórica entre o Vaticano e o Oriente Médio. A viagem ocorre 13 anos após a última passagem de um papa pelo território libanês, quando Bento XVI esteve em Beirute em setembro de 2012.
A primeira visita papal ao Líbano foi registrada em 1964, quando o Papa Paulo VI fez uma breve escala no Aeroporto Internacional de Beirute, tornando-se o primeiro chefe da Igreja Católica a pisar em solo libanês. Na época, o gesto foi recebido como um marco diplomático simbólico em um período de alto prestígio regional do país, antes das turbulências que transformariam seu cenário político e social.
O evento mais expressivo na memória coletiva libanesa permanece sendo a visita de João Paulo II, em maio de 1997. Durante 32 horas no país, o pontífice lançou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal para o Líbano e reforçou a necessidade de convivência entre comunidades religiosas, um discurso que segue profundamente associado à identidade libanesa. A presença de João Paulo II ocorreu em tempos de negociações internas e disputas de poder, e sua mensagem de diálogo ainda é lembrada por vários setores políticos e religiosos.
Já a visita de Bento XVI em 2012 representou um momento de preocupação crescente com os reflexos da guerra da Síria e da migração forçada de cristãos da região. Em Beirute, Bento XVI alertou para os efeitos da radicalização política no Oriente Médio e defendeu a continuidade histórica da pluralidade religiosa libanesa.
O Papa Francisco, que morreu em 21 de abril de 2025, havia expressado diversas vezes o desejo de viajar ao Líbano, mas problemas de saúde impediram a realização da visita. Seu posicionamento firme em favor do diálogo inter-religioso e da proteção das minorias cristãs deixou lacunas diplomáticas que agora recaem sobre Leão XIV.
A visita do Papa Leão XIV acontece em um cenário de escalada militar nas fronteiras do sul e diante do aumento da pressão internacional por negociações diretas entre Líbano e Israel. Autoridades libanesas têm defendido a retomada do diálogo com garantia de soberania territorial, enquanto o governo israelense mantém resistência.
Especialistas avaliam que a presença do pontífice em Beirute pode ter impacto simbólico imediato, sobretudo ao reforçar a imagem do Líbano como ponto de encontro entre religiões e civilizações. No entanto, analistas ponderam que o Vaticano, apesar de sua influência moral, não possui instrumentos diretos de interferência política nas atuais dinâmicas de conflito.
Ao final da cerimônia de recepção oficial, fontes diplomáticas afirmaram que o discurso do Papa Leão XIV deve enfatizar paz, estabilidade e a proteção do mosaico cultural libanês, reconhecido historicamente como peça essencial para o equilíbrio regional.







