A presença do Papa Leão XIV no Líbano reaquece um debate sensível: quem está financiando a viagem em um país que enfrenta seu pior colapso econômico desde a guerra civil. A resposta envolve múltiplos atores, recursos limitados e críticas crescentes à gestão dos fundos destinados ao evento.
Roger Zaccar, nomeado como responsável pelo comitê financeiro da visita, afirma que os preparativos começaram mesmo antes do anúncio oficial do Vaticano em 7 de outubro. Segundo ele, a estrutura logística exigida para uma viagem papal não poderia aguardar a confirmação final, dado o tempo reduzido para organização e segurança.
Zaccar reconhece que a assembleia episcopal libanesa desempenhou tradicionalmente um papel central no financiamento de visitas papais. No entanto, pela primeira vez, ela assume uma parcela muito maior dos custos, já que os recursos do Estado estão severamente impactados por sucessivas crises políticas, econômicas e administrativas. O governo libanês, segundo fontes internas, não possui margem financeira para financiar compromissos fora do escopo de uma visita oficial de chefia de Estado.
Sem divulgar o orçamento total da viagem, Zaccar citou como referência a visita do Papa Bento XVI em 2012, cujo custo aproximado foi de 5 milhões de dólares, incluindo infraestrutura e segurança. À época, a maior parte do valor foi coberta pelo governo libanês, enquanto um grupo menor de doadores privados completou o financiamento.
O modelo atual é diferente. A maior parte dos recursos vem de doações privadas e institucionais reunidas pela Igreja Católica no Líbano, com contribuições pontuais de empresas, filantropos e da comunidade libanesa no exterior. A participação do Estado, desta vez, é considerada residual.
Apesar do entusiasmo de parte da população, o financiamento se transformou em alvo de críticas. Organizações civis, economistas e alguns grupos comunitários afirmam que a arrecadação destinada à visita deveria ser direcionada para ações humanitárias urgentes, como segurança alimentar, educação e hospitais públicos. O debate tem ganhado espaço principalmente nas redes sociais e na imprensa local.
Defensores do investimento argumentam que a visita fortalece a posição diplomática do Líbano, atrai visibilidade internacional, favorece o setor de turismo e reafirma o país como importante polo espiritual e cultural. Para eles, ignorar um evento dessa dimensão seria uma perda irreparável para a imagem nacional.
Entre a expectativa do impacto simbólico e a pressão por prioridades financeiras, a visita do Papa se torna mais que um evento religioso. Ela revela o grau de fragmentação das prioridades do país e a dificuldade de conciliar fé, política e sobrevivência econômica.







