O Líbano e o Brasil são considerados irmãos. Vivem em harmonia. A maior comunidade fora do Líbano se encontra no Brasil.
O embaixador Jorge Geraldo Kadri deixou o Líbano neste domingo (16), após quase quatro anos de trabalhos na Embaixada do Brasil no país. Os brasileiros que vivem no Líbano, por meio das redes sociais estão lamentando o momento de despedida do embaixador, que segundo eles, sempre foi muito acessível e pronto para atender os anseios da comunidade.
Antes de chegar ao Líbano, Kadri ficou de 2012-2015 na Polônia. Por ser descendente de libanês, da cidade de Zahle, na região do Vale do Bekaa, o embaixador brasileiro foi acolhido de imediato, não só pelos brasileiros, mas por todos os libaneses.
Na sua gestão, o Brasil conseguiu avançar em ações políticas, econômicas e humanitárias. Hoje o Líbano conta com aproximadamente 17 mil brasileiros, já os libaneses e descendentes formam uma comunidade composta por 12 milhões de cidadãos no Brasil.
O Líbano e o Brasil são considerados irmãos. Vivem em harmonia. A maior comunidade fora do Líbano se encontra no Brasil. Hoje existem mais libaneses no Brasil do que no próprio Líbano.
E com tantos lanços entre os dois países, Kadri conseguiu fortalecer os trabalhos. Inúmeras autoridades brasileiras foram conhecer as atividades desenvolvidas pelo Brasil no Líbano. Entre elas, os governadores dos Estados de São Paulo e de Goiás, Márcio França e Marconi Perillo. Em momentos diferentes, eles estiveram no país para discutirem possibilidades de parcerias comerciais.
Poucos sabem, mas Kadri também mantém formação militar. Ele passou pela Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Da Força Aérea e depois pela Marinha, formando-se em Engenharia de Máquinas pela Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante. Com essa formação militar, ele pode vivenciar os trabalhos da Marinha do Brasil, que desde 2011, detém o comando da Força Tarefa Marítima no Líbano, na missão de paz das Nações Unidas (ONU), “Noto que a contribuição brasileira à frente da FTM tem sido igualmente elogiada pelo comandante da UNIFIL, major- general Michael Beary, que, em contato conosco em agosto de 2017, por ocasião do processo de renovação do mandato da força de paz, qualificou a liderança do Brasil como “excelente”, tendo manifestado a expectativa de que o País continue à frente do componente naval da UNIFIL. É um grande orgulho ver os nossos militares fazendo parte dessa ação humanitária”, salientou Kadri.
Mesmo com a presença do Brasil, por meio da Marinha, fazendo parte da ação humanitária, Kadri explica que o Brasil precisa avançar e colaborar ainda mais para atender as reais necessidades do Líbano, que há muito tempo, mesmo sendo um país pequeno, acolhe milhões de refugiados, como os palestinos e agora os sírios.
Reclamações do Setor Consular
O embaixador justifica que devido à extinção do Consulado-Geral em Beirute, foi reaberto o Setor Consular da Embaixada em 2015. Com a redução do quadro pessoal em 2014, os trabalhos foram prejudicados. As reclamações chegavam o tempo todo. Como ele era muito acessível, recebia muitas reclamações até mesmo pelas redes sociais. Identificado o problema, foi possível ofertar melhoria do atendimento ao público.
O embaixador faz questão de reforçar que ocorreu uma diminuição das reclamações recebidas pela Ouvidoria Consular, “foi reestruturado o sistema de agendamento dos pedidos de vistos, passaportes e atos notariais, tendo havido redução do tempo de espera para o atendimento. Hoje os vistos ou passaportes levam em média 10 dias para ficarem prontos. Foram redefinidas as tarefas dos vários serviços entre os funcionários. Vale mencionar que, nos últimos dois anos, houve aumento da quantidade de mensagens em tom de elogio”.
O Consulado mantém uma demanda muito grande. Por exemplo, desde maio de 2015, foram emitidos 25 mil serviços, como vistos, passaportes, atos de registros civil e notarial, entre outros. A maior procura ainda é pela certidão de nascimento. Entre 2015 até o momento, mais de 2000 registros de nascimentos e alistamentos militar e eleitoral foram emitidos.
E devido ao aumento dos serviços, o Consulado Honorário, na cidade de Kab Elias se torna um grande aliado. É na região do Vale do Bekaa que se concentra boa parte da comunidade brasileira. Em março de 2016, houve a renovação do mandato da cônsul honorária, Siham Harati. De acordo com o embaixador, ela conhece muito bem as necessidades da comunidade da região. “A cônsul honorária é uma grande aliada do Brasil. Ela mantém com recursos próprios o Consulado no Bekaa.” Siham ajuda muito o Brasil na prestação de assistência consular e desafoga o Consulado de Beirute. Por onde passo falo dessa importante ajuda que recebemos para oferecer serviços de qualidade aos que nos procuram”, diz Kadri.
Conselho de Cidadãos Brasileiros
Outro braço importante, salientado pelo embaixador, foram os trabalhos do Conselho de Cidadãos, composto por 12 membros brasileiros das mais diferentes regiões do Líbano, eles identificam e dentro das leis libanesas, ajudam solucionar os problemas vivenciados por membros da comunidade brasileira. Todos os trabalhos são acompanhados pela Embaixada, pontua Kadri, “O Conselho nos ajudou identificar brasileiras que estavam dentro de um quadro de vulnerabilidade social. Oferecemos assistência consular e tudo foi solucionado de acordo com as leis do país”.
Brasileiros presos no Líbano
Jorge Kadri diz que na sua gestão, todos os presos brasileiros receberam assistência consular, contando com advogados locais e com o apoio da ONG Kelna Inta e de voluntários. Foram facilitada a comunicação com os familiares, e o pagamento dos honorários advocatícios, “O setor consular da embaixada manteve contato rotineiro com os advogados e, quando cabível, interlocução com a administração das penitenciárias”. No cenário atual, segundo informações do Consulado Brasileiro, existem dez presos, entre eles está uma mulher e sete homens presos por tráfico de drogas, além de dois homens libaneses com documentos brasileiros, por crime de terrorismo.
Mudanças no Centro Cultural
O Centro Cultural Brasil-Líbano (CCBL) passou por mudanças no decorrer da gestão de Kadri. Para ele, elas foram necessárias para o sucesso dos trabalhos devolvidos com membros da comunidade e com todos que frequentam o Centro Cultural, que é a única escola de língua portuguesa do Líbano e mantém um corpo docente de alto nível. Além de Beirute, o embaixador diz com orgulho, que hoje, os interessados em aprender português, contam com pontos de ensino nas cidades Zouk Mikhael, em Lucy e se prepara para chegar a mais localidades do país. Desde que assumiu os trabalhos da Embaixada, o Centro Cultural registra em torno de 50 eventos por ano, fortalecendo ainda mais o Brasil, por meio do ensino da língua portuguesa, danças, artes plásticas, exposições, entre outras atividades culturais em parcerias com Embaixadas de diferentes países.
Passagem pelo Líbano
O embaixador Jorge Kadri se despediu do Líbano pontuando os acertos e possíveis ações que o próximo embaixador poderá dar andamento. Reforçou a importância do Líbano como plataforma para o processo de reconstrução da Síria. Ele sugeriu que intensifique esforços para fortalecer a presença empresarial do Brasil no Líbano.
Agora ele retorna as atividades de trabalho no Itamaraty. Perguntado se sentirá saudade do Líbano, com a voz embargada, disse:”Estou indo feliz por ter vivido dias ótimos no Líbano e muito triste por já está sentindo saudade dos amigos que fiz nos últimos anos. O Líbano sempre estará dentro do meu coração”, explicou o embaixador.