A esperança de que o cessar-fogo de 27 de novembro de 2024 traria alívio para o Líbano rapidamente se dissipou. Apesar do acordo, que deveria resultar na retirada das tropas israelenses e no recuo do Hezbollah para o norte do Rio Litani, a realidade tem se mostrado bem diferente para aqueles que vivem no sul do país. A violência israelense não cessou e, ao contrário, a destruição e os ataques contra civis e vilarejos continuaram, aprofundando ainda mais o sofrimento da população.
O confronto entre o Hezbollah e Israel, iniciado em 8 de outubro de 2023, causou danos irreparáveis ao Líbano, com um saldo de quase 4.000 mortos e milhões de pessoas afetadas pela destruição. O sul do país, onde as fronteiras com Israel são mais próximas, foi particularmente devastado, com cidades e vilarejos inteiros arrasados. Quando o cessar-fogo foi oficialmente anunciado, a promessa era de um fim das hostilidades, mas logo ficou claro que os ataques israelenses não cessariam.
Israel, apesar de seu compromisso com o cessar-fogo, justificou sua continuação de ataques como parte de um esforço para “desmantelar e destruir” o Hezbollah. Esse objetivo, repetidamente declarado por Tel Aviv, levou o exército israelense a realizar bombardeios aéreos e incursões em vilarejos do sul do Líbano, especialmente em Naqoura, cidade localizada na fronteira com Israel. Mesmo antes da entrada das tropas israelenses em Naqoura, a cidade já havia sofrido danos durante a guerra, mas ainda não havia sido invadida após o cessar-fogo.
No entanto, em meados de dezembro de 2024, as tropas israelenses entraram na cidade, e uma série de ataques foi registrada. Relatos de destruição deliberada de casas e prédios começaram a surgir, e imagens devastadoras de uma cidade em ruínas começaram a circular. A organização ACLED (Armed Conflict Location & Event Data Project) documentou 14 incidentes de demolições de casas em Naqoura entre 11 de dezembro de 2024 e 6 de janeiro de 2025, incluindo explosões controladas que destruíram várias residências de uma só vez.
A continuidade das operações israelenses após o cessar-fogo provocou indignação e sofrimento entre os civis libaneses. Muitas pessoas, que haviam fugido para escapar da violência, esperavam retornar às suas casas após o fim dos ataques. Porém, as destruições adicionais transformaram o retorno em uma realidade distante e angustiante. Para os moradores do sul, o cessar-fogo parecia não ter servido para nada além de uma pausa temporária, enquanto a violência persistia.
A situação é ainda mais incompreensível para a comunidade libanesa fora do país, como os libaneses no Brasil e seus descendentes. Muitos desses libaneses não falam árabe, não conhecem a fundo a realidade política e social do Líbano e, por isso, se sentem desconectados dos eventos que marcam a vida de seus compatriotas. No entanto, para aqueles que mantêm laços afetivos com a terra natal, a continuidade da violência traz um profundo sentimento de impotência e preocupação.
A diáspora libanesa tem se mobilizado para tentar entender o que está acontecendo no país, mas a distância e a falta de informações precisas dificultam o engajamento mais profundo. As gerações mais jovens, muitas vezes desconhecendo a realidade do Líbano, buscam entender melhor as consequências do conflito e as necessidades das vítimas. O desafio agora é como as gerações mais distantes podem se conectar e apoiar aqueles que continuam a sofrer.
Em meio à devastação, o Líbano segue lutando para se reconstruir, mesmo que os ataques não tenham cessado completamente. A cidade de Beirute, embora longe da linha de frente, sente os efeitos do conflito, com um número crescente de refugiados e famílias desabrigadas. A reconstrução do país, que já enfrentava uma crise econômica antes do início do conflito, será ainda mais difícil, enquanto os ataques israelenses continuam a atingir civis, suas casas e suas vidas.
A questão que fica no ar é até quando o Líbano e seu povo terão que pagar o preço da violência, mesmo quando acordos de cessar-fogo são estabelecidos. A dor e a destruição são profundas, e o sofrimento da população, principalmente no sul do país, segue sendo uma realidade que não pode ser ignorada. As vozes dos libaneses, especialmente aqueles fora do país, precisam ser ouvidas, enquanto o mundo observa o desenrolar dessa situação, aguardando por um fim que ainda parece distante.