Khaled Mohamad Majzoub e Mona Abdul Latif El Majzoub, desembarcaram na sexta-feira (25), na cidade brasileira de Guarulhos (SP), após fugirem da justiça libanesa, na última terça-feira (22). Eles foram recebidos com muita festa no aeroporto de São Paulo e na cidade de São José dos Campos (SP), onde eles residem no Brasil.
Os três filhos do casal, netas, irmãos, amigos e funcionários foram recebê-los. Majzoub desembarcou com o apoio de uma cadeira de roda. Mona estava muito abatida e emocionada no reencontro com os familiares.
Ambos são investigados pela justiça do Líbano por terem presenciado o assassinato da síria Anam Ballat, na cidade de Anjar, no Vale do Bekaa, na noite do dia 22 de agosto de 2021. A defesa sempre negou a participação do casal no crime.
Logo após o desembarque dos libaneses com nacionalidade brasileira, no aeroporto de Guarulhos, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por meio da Divisão de Assessoria de Imprensa, reforçou que o Brasil e Líbano não possuem acordo de extradição bilateral.
Em nota, o Itamaraty informou ao Jornal do Líbano que, “extradições do Brasil para o Líbano podem ocorrer, em tese, com base em promessa de reciprocidade, desde que sejam observadas as condições previstas pela Constituição Federal.”

Majzoub esteve preso sem nenhuma acusação formal por quase 500 dias, inicialmente em caráter de interrogatório. Depois, foi transferido para uma cadeia na cidade de Jib Janine, também no Bekaa, onde permaneceu até o último mês de maio.
Mona também foi presa, mas conseguiu esperar o processo em liberdade após pagar 200 dólares de fiança. Ela é paciente oncológica e estava no Líbano para visitar os familiares após o final do ciclo de quimioterapia.

Direitos humanos violados
Familiares denunciaram que ele estava sem água na prisão e enfrentava um grave quadro de diarreia, consequência do seu problema no intestino. Ele fazia tratamento médico no Brasil.
A denúncia de violação dos direitos humanos chegou ao conhecimento da Embaixada do Brasil em Beirute, mas segundo o embaixador, Hermano Telles Ribeiro, na prisão, membros do Setor Consular fizeram visitas, “o cidadão binacional e nenhuma das vezes informou sobre essas questões”, explicou o embaixador.
Com a saúde muito comprometida, Majzoub precisou ser internado. Mas só conseguiu liberação após um laudo feito por um médico brasileiro, que esteve na cidade de Zahle e explicou pessoalmente para a juíza Amani Salam, a gravidade do caso. O laudo também foi encaminhado para as autoridades diplomáticas do Brasil em Beirute.
No último mês de maio Majzoub foi encaminhado para um hospital particular no Vale do Bekaa, onde permaneceu até o início desta semana, quando ocorreu a fuga do Líbano para o Brasil.
O casal tentou de todas as formas legais provar inocência. Em outubro, Mona e o cunhado Ali Majzoub também foram recebidos pelo embaixador do Brasil em Beirute. Eles foram informados, que dentro das leis locais, o Brasil estava acompanhando o caso.
No verão de 2021, Mona Abdul Latif El Majzoub se juntou ao marido em mais uma viagem para o Líbano. O motivo seria buscar aconchego entre os familiares, após o final do ciclo de quimioterapia que ela tinha acabado de se submeter por causa de um diagnóstico de câncer nos ossos.
Na madrugada do dia 22 de agosto, logo após deixarem um famoso restaurante na cidade de Anjar, onde jantaram na companhia de uma amiga síria, Majzoub e Mona, retornavam para cidade de Ghazze, quando foram surpreendidos por diversos disparos de arma de fogo. O atentado resultou na morte Anam Ballat.
Majzoub foi preso quando foi registrar uma queixa por ter sofrido o atentado. Quatro dia depois, Mona também foi presa e permaneceu na cadeia por quase quatro meses.
“Eles são duplamente vítimas, no caso Majzoub e Mona, eles presenciaram tudo, sofreram violência psicológica, perderam uma amiga, e foram presos injustamente e indevidamente pelo Estado Libanês”, afirmam os advogados de defesa no Líbano.