Michel Aoun havia dito que o material explosivo estava guardado no porto de Beirute de forma negligente. Vinte pessoas já foram presas
O presidente do Líbano, Michel Aoun, revelou nesta sexta-feira (7) que uma investigação sobre a explosão ocorrida no porto de Beirute, irá apontar se a causa da mesma foi um atentando com o uso de uma bomba ou alguma outra interferência externa, enquanto a população busca voltar a rotina normal.
Equipes de resgate vasculham os escombros em uma corrida contra o tempo, a fim de se encontrar alguém ainda com vida. Até agora já foram contabilizados 154 mortes e 5.000 feridos. A explosão destruiu uma faixa da cidade mediterrânea e enviou ondas de choque em um raio de 10km na região. “A causa ainda não foi determinada. Existe a possibilidade de interferência externa por meio de um foguete ou bomba ou outro ato”, disse o presidente à jornalistas locais, segundo a CNBC.
Aoun, que já havia dito que o material explosivo foi armazenado de forma insegura por anos no porto, disse agora que a investigação também analisaria se a explosão foi causada por negligência ou acidente. Vinte pessoas foram detidas até agora. Fontes informam que uma investigação inicial aponta para negligência. O governo dos EUA não descarta um ataque. Israel, que travou várias guerras com o Líbano, negou qualquer responsabilidade.
O presidente turco, Tayyip Erdogan, disse que a causa não era clara, mas comparou a explosão ao bombardeio de 2005 que matou o ex-primeiro ministro Rafik al-Hariri. O líder do grupo xiita Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, negou o que disse serem comentários “preconcebidos” tanto internamente quanto no exterior de que o grupo apoiado pelo Irã tinha armas armazenadas no porto. Ele pediu uma investigação justa para todos os responsáveis, sem qualquer cobertura política. “Mesmo se um avião bater, ou se for um ato intencional, se for apontado que esse nitrato estava no porto há anos, isso significa que parte do caso é absolutamente negligência e corrupção”, disse ele.
Na mesquita Mohammad Al-Amin de Beirute, próximo ao túmulo de Hariri, o clérigo chefe Amin Al Kurdi disse aos fiéis em um sermão na sexta-feira que os líderes libaneses eram responsáveis. “Quem é o criminoso, quem é o assassino por trás da explosão de Beirute?” ele disse. “Somente Deus pode proteger, não os corruptos … O exército apenas protege os líderes.”
As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo contra uma multidão em Beirute na quinta-feira, enquanto a raiva fervia na elite governante, que presidiu um colapso econômico. Um pequeno grupo protestou atirando pedras. “Não há como reconstruir esta casa. Onde fica o estado? disse Tony Abdou, um desempregado de 60 anos.
A casa de sua família fica em Gemmayze, um distrito a algumas centenas de metros dos armazéns onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio foram armazenadas por anos perto de uma área densamente povoada. Voluntários varreram detritos das ruas de Beirute, que ainda carregam cicatrizes de uma guerra civil que durou de 1975 a 1990. “Nós realmente temos um governo aqui?” disse o taxista Nassim Abiaad, 66 anos, cujo táxi foi esmagado pelos destroços quando ele estava prestes a entrar. “Não há mais como ganhar dinheiro.”
Para muitos, a explosão foi sintomática de anos de abandono e corrupção. “O problema é este governo e todos os governos anteriores a ele”, disse Mohammed Kalifa, 31 anos. Autoridades disseram que a explosão, cujo impacto foi registrado a centenas de quilômetros de distância, pode ter causado prejuízos de 15 bilhões de dólares. Essa é uma conta que o Líbano não pode pagar depois de já ter dado o calote em uma montanha de dívidas – excedendo 150% da produção econômica – e com as negociações paralisadas sobre uma tábua de salvação do Fundo Monetário Internacional.
Hospitais, muitos deles fortemente danificados com as ondas de choque que arrancaram janelas e tetos, estavam superlotados. “Eu vivi parte da guerra civil. Eu vi pessoas sendo baleadas na minha frente. Mas nunca houve tamanho horror”, disse o médico Assem Al Hajj, do hospital Clemenceau de Beirute. Enquanto as equipes de resgate exaustos, vasculhavam os destroços para encontrar sobreviventes, pessoas enlutadas acamparam do lado de fora do porto onde seus familiares foram vistos pela última vez. Algumas vítimas foram jogadas no mar por causa da força explosiva.
“Gostaríamos de entrar no porto para procurar meu filho, mas não conseguimos permissão”, disse Elias Marouni, descrevendo seu filho George, um oficial do exército de 30 anos. Uma mãe chorando ligou para um programa de TV do horário nobre para implorar às autoridades que encontrassem seu filho, Joe. Ele foi encontrado horas depois, morto.
No distrito de Karantina, em Beirute, uma equipe de resgate polonesa fez uma pausa perto de um prédio de três andares que foi completamente destruído. Uma mulher e suas duas filhas adolescentes foram mortas, disse um vizinho. Charbel Abreeni, que treinou funcionários do porto, mostrou fotos da Reuters em seu telefone de colegas mortos. Ele estava sentado em uma igreja onde a cabeça de uma estátua da Virgem Maria foi estourada.
“Eu conheço 30 funcionários do porto que morreram, dois deles são meus amigos próximos e um terceiro está desaparecido”, disse o homem de 62 anos, cuja casa foi destruída. Sua canela estava enrolada em uma bandagem. “Não tenho para onde ir, exceto a família da minha esposa”, disse ele. Como você pode sobreviver aqui? A economia é zero”, afirmou.
Depois que a explosão destruiu o único grande silo de grãos do Líbano, as agências da ONU ajudaram a fornecer alimentos de emergência e ajuda médica. Ofertas de ajuda também chegaram de estados árabes, nações ocidentais, do Vaticano e de outros lugares. Mas nenhum, até agora, aborda os maiores desafios que uma nação falida enfrenta.
* Com agências internacionais