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Sabor do Líbano

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Por Tatiana C. Hultmann

Sou brasileira, mas em minhas veias corre sangue libanês dos Cury. Tendo avó paterna libanesa eu cresci com os sabores e especiarias do Líbano em minha casa e nas visitas ao Rio de Janeiro, onde ela residia com meu avô.

Sobre a mesa, esfihas, azeitonas, pistaches, coalhada e o meu adorado tabule entre outras delícias; mas a mesa farta de alimentos é também a mesa dos sentidos e das experiências.

No Líbano o ato de se alimentar é algo quase sagrado. Tente negar um prato de comida servido pela dona da casa… Impossível! Ofensa máxima, não importa se você já comeu nove dos dez pratos que ela te serviu.

Família Cury passando férias no Líbano. Meu pai Ronaldo Cury, eu e a minha irmã Katia. Imagem: Arquivo pessoal

A mesa posta é um convite aos convivas, à reunião familiar. Juntos à mesa existe uma festa de aromas, cores, sabores e texturas. É permitido usar as mãos para comer. Usa-se a alface e o pão para ajudar. Conversas acaloradas regadas de azeite e importantes decisões ali são celebradas.

Na mesa os aromas diversos estimulam o cérebro e alimentam a alma. Não importa se você está triste ou feliz, sempre vai existir uma refeição ou petisco perfeito para a ocasião, porque o libanês conhece o valor do alimento, conhece a arte de receber bem o seu irmão e reconhece no alimento uma forma de amor e acolhimento.

Sua culinária secular tempera o cotidiano dessa terra de gente de fibra, que já passou por muitas provações, mas que jamais perdeu a esperança e que compartilha o alimento que tem, num gesto genuíno de amizade. Por tudo o que já vivenciou, o libanês tem absoluto respeito por todos os alimentos que advém da terra e dos animais.

Aqui no Brasil eu fecho os olhos e me recordo saudosa do Manuella, restaurante que alegra a vida das pessoas desde 1960, em Maalmeitein. Me lembro das travessas fartas, do cordeiro suculento e da vista espetacular do mar.

Eu e a minha irmã Kátia no Líbano. Imagem: Arquivo pessoal

Também me recordo de um restaurante pequeno em uma rua empoeirada, com aquele espeto gigante rodando uma carne a ser desfiada para o shawarma que comprei e levei comigo nas minhas andanças. Ainda salivo ao relembrar o sabor.

Penso que há algo na tradição gastronômica do país que te conecta com o passado, com a história dessa civilização. As receitas foram passadas por muitas gerações e esse laço não se perdeu mesmo com o avanço da tecnologia.

Hoje posso não estar no Líbano, mas creio que o Líbano e seus sabores vivem em todos os que lá já estiveram.